VISLUMBRES


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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A PONTA DO VÉU



Disto, que te não escondo, eu nada nego;
Nem o intenso olhar com que te fito,
Nem, vago, o esgar de dor que quase evito
E que revela o meu desassossego.

Do resto, que não disse, nem delego
Na boca de outro alguém, pois não admito
Que um outro assuma aquilo que foi escrito
No tal modo verbal que nunca emprego,

Do restante - dizia – e dessas letras
Que, em tempos, me ficaram por escrever
Nos papéis que imagino [ou vejo e sinto?],

Surge a ponta do véu que esconde as metas
Que jamais revelou mas, sem saber,
Depois te mostrará que eu nunca minto…


Maria João Brito de Sousa – 29.12.2010 – 19.01h

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

NÃO NEGO ABRIL!



NÃO NEGO ABRIL!










Não negarei Abril, que Abril sou eu

E tudo o que em mim vive e se desdobra

Como se fosse vosso o que me sobra

E o que vos sobra, a todos, fosse meu!





Não negarei o espaço, nem o céu

Ou o que há de divino em cada obra

E hei-de pagar ao mundo o que ele me cobra

Porque o que cresce em mim, de Abril nasceu.





Não nego Abril, que Abril me seduziu,

Me estendeu o seu braço companheiro

Me deu asas, canções e voz liberta!





Prometeu muito mais, mas lá cumpriu!

[nunca um Abril sozinho é derradeiro

nem liberdade é coisa sempre certa... ]










Maria João Brito de Sousa – 27.11.2010 – 21.06h

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

ANJO IMPREVISTO



Sinto-te vir, mais suave do que a prece…
Volteia sobre mim, Anjo Imprevisto!
És o jorrar de um néctar que conquisto
No culminar de um corpo que adormece!

De tudo o que na vida me acontece
Sempre que o isco surge e não resisto,
És bem menos provável – nisso insisto! –
Do que um dia a romper, quando anoitece…

Portanto, anjo impossível que não esqueço,
Adeja sobre mim quando adormeço,
Conquista-me este sonho e vai-te embora!

Pois tu não sabes que eu não tenho preço,
Que acordo, me reinvento e te despeço!?
[meu assombro é lunar, não se demora...]





Maria João Brito de Sousa – 20.11.2010 – 18.03h

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A CONQUISTA DA FLOR PELA SEMENTE





Lá longe
Ecoa, indómito,
O meu grito,
Fonética estelar
Que eu dignifico
Num jogo universal que não domino

Eu desafio,
Mais do que o razoável
E seguro
Nas letras a que já perdi a conta
Das mil canções que crio e nem procuro

Tudo isto eu devo
E nada mais me move
Ou me norteia
Senão a mesma força que promove
A devoção lunar de uma alcateia

E, sobretudo,
Eu sou,
Como os demais,
Palco e passagem
Dos mil ilusionismos geniais
De uma vontade só, que é divergente,
Qual átomo lançado na voragem
Da conquista da flor pela semente!




Ao lobo que mora em cada um de nós


Maria João Brito de Sousa – 14.11.2010 – 18.19h


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

VELHA NAU



>
Neste fundo de mar me afogo e cedo
A alma à velha nau que me navega
E, tendo revelado o meu segredo,
Recebo o novo dom que ela me entrega

Fascinada por ele, só nele me enredo
E, venha o que vier, nem a refrega
Me faz voltar atrás, cedendo ao medo
Do ciclo da permuta e da trasfega…

Por mais mar que esta minha nau percorra
[pouco me importa que ela afunde e morra;
há sempre um mar que volta e outro que parte!],

Enquanto a velha nau mo permitir
Hei-de perpetuar, neste ir e vir,
Mil conquistas do Tempo pela de Arte…


Maria João Brito de Sousa

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O MOSQUITO NA MESA DO CAFÉ II - sonetilho



Inda se fosse um leão,
Uma cobra, um elefante...
Mas... um "monstro" esvoaçante
Com perna longa e ferrão?!

Assustada, exclamo: - Não!
E, em menos de um instante,
Salto da mesa, ofegante...
Palpita-me o coração,

Quase rebenta no peito!
Não sei bem se isto é defeito
Ou se, afinal, é feitio

Mas, quando vejo um mosquito,
Podem crer que eu salto, grito
E anda tudo em corrupio!


Maria João brito de Sousa

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

TER, NÃO TENDO...



Atribuo o que tenho ao que não tenho…
Se tudo tem um preço, este é o meu!
Por mais que vos pareça injusto ou estranho,
Aceitei-o da mão que mo estendeu…

É, portanto, das letras que desenho
E que estendo pr`a vós, qual Prometeu,
Que retiro o Maná que agora obtenho
[quem não colhe da Terra, ordenha o Céu…]

Se, às vezes, sinto a falta de um conforto,
Se a alma se me esgota na labuta,
Se o provento não dá pr`a sustentar-me,

Tenho a compensação do tronco morto
Renascendo da cinza; a própria fruta
Com que havereis, depois, de consolar-me…


Maria João Brito de Sousa – 06.11.2010 – 15.35h

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A PRÓXIMA PARAGEM



A próxima paragem será minha,
Não quero partilhá-la com ninguém…
Devolvo à terra o que da terra vem
E voo em negras asas de andorinha

Se, ao parar, a minha alma se encaminha
Para o que, aqui na Terra, `inda não tem,
Eu paro de vontade e vou por bem
Aonde me levar essa avezinha…

A minha ambiguidade funcional
Aponta-me o caminho e, afinal,
Ainda tenho tanto pr`a escrever…

Talvez seja depois, muito mais tarde,
Que me surja a paragem – Deus me guarde!
[eu sei lá quanto tempo irei viver!...]



Maria João Brito de Sousa

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

UNS TANTOS DE NÓS




Muito além das conquistas ou dos medos,
E dos bens que, pr`a ter, há que comprar,
Das mentiras, verdades e segredos
Que cada um irá, ou não, calar;

Muito além das sereias nos rochedos
[que inventámos tão só para enganar
as fragatas que lançam seus torpedos
quando nenhum de nós quer disparar…]

Apesar das mil coisas que nos prendem
À nossa condição de seres humanos
E que no dia-a-dia nos constroem,

Há uns tantos de nós que compreendem
Que iremos muito além desses enganos
Das “coisinhas” banais que mais nos doem…


Maria João Brito de Sousa

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

PUZZLE II



Devagar se vai longe, alto se voa,
De repente se encontra o já perdido,
Se ri, se grita “até que a voz nos doa”
[…e se esvai, gota a gota, o pretendido…]!

Quanto mais devagar, melhor se escoa
Vosso espanto [por todos desmentido…]
Nessa rua sombria aonde ecoa
Novo Dó musical, mal pressentido…

Longe ou perto se alcança o que, sem pressa,
Pelo amor, pela fé, pela promessa,
Mais se vai destacando entre os comuns

E o Puzzle, construído peça a peça,
Retomando funções, lá recomeça
[muito embora invisível para alguns…]!



Maria João Brito de Sousa

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

CANTO DE UMA ANTIQUÍSSIMA MEMÓRIA



Lembras-te dos caboclos, já cansados,
Enchendo a escadaria de queixumes?
Dos carregos dos móveis, mal atados,
De arestas afiadas como gumes?

E lembras-te de mim que, aos castigados,
Enchia de perdões, dando perfumes?
A pena que eu senti dos desgraçados
A quem tu foste impondo os teus costumes…

Lembras-te do escritório, dos teus quadros,
Da enorme cozinha onde as mulatas
Preparavam segredos culinários

E cantavam baixinho aos seus amados?
Lembras-te do brilhar das velhas pratas
Por cima da janela e dos armários?


Maria João Brito de Sousa

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O LOUCO, O ENIGMA E A ESPERA




… e ria-se das coisas que não tinha
Esquecido, já, das coisas que tivera.
Nas noites de luar, descia à vinha
Para se resolver nos braços de Hera.

Nas galhas da videira se entretinha
Tão nu como se a própria Primavera
Só à nudez legasse uma adivinha
Qual enigma infindável, sempre à espera…

Se chovia ficava num desnorte…
Escorria-lhe o enigma encosta abaixo,
Turbava-se-lhe a noite em desespero

E, louco, maldizendo a sua sorte,
Sentava-se nas rochas, cabisbaixo,
Esperando, exactamente como eu espero.


Maria João Brito de Sousa


IMAGEM RETIRADA DA INTERNET

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

TELA III




Será por mim e não por quem não sinto
Nem jamais sentirei uma empatia,
Que eu ato as pontas soltas deste instinto
Que para nada mais me serviria...

Sereis, porém, bem vindos ao recinto
Que engloba um universo... eu gostaria
De abraçar-vos nas cores com que eu o pinto
Porque nenhuma cor nele existia...

Sois bem vindos ao cume desta sede,
À chama deste fogo inapagável
Que me vai consumindo, como vela!

Sois bem vindos a esta estranha rede,
A este vazio, sempre inesgotável,
Da escritora pintando a sua tela...



Maria João Brito de Sousa - 19.08.2010 - 13.30h


NOTA - Onde se lê PEINTE, na imagem da tela, deverá ler-se PEINT.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ENQUANTO A MINHA TERRA VAI ARDENDO...




Enquanto a minha terra se incendeia,
O enlutado céu se vai doirando
E, à pressa, se evacua uma outra aldeia
De que as chamas se vão aproximando,

Brilha em mim, de repente, estoutra ideia
E, sem me arrepender, vou escrevinhando.
Na minha terra, o fogo vai lavrando
E, em mim, é outra a chama que se ateia…

E, sem remorso algum - porque inocente… -,
A pequenina chama dos poemas
Já lavra no meu peito e vou escrevendo…

Não me apodem, contudo, de indiferente!
Eu apenas resolvo outros problemas
Enquanto a minha terra vai ardendo…



Maria João Brito de Sousa – 12.08.2010 -22.07h

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A CLANDESTINA




Na curva de cada esquina,
Por cada passo que dei;
Meu sorriso de menina
E as asas que dele herdei!

Passo a passo e dia a dia
Sonho, construo, desvendo
Os meandros da harmonia
A que, sorrindo, me prendo…

Dobro a curva, passo a esquina,
Torno à esquina que dobrei
Mal o dia se ilumina
Volto aos sonhos que sonhei!

Já vai longa a caminhada.
Tanta esquina… quantas mais
Caberão na curta estrada
Que vai de mim ao meu cais?

Fico na curva da esquina,
Contando os passos que dei,
Sorrindo como a menina
A que não retornarei…

As asas foram herdadas,
Mas, pelos passos que der,
Nascerão novas calçadas
Das pedras do meu “mester”!

Dou por mim junto da esquina,
A pensar se não serei
Passageira clandestina
Das asas com que voei…



Maria João Brito de Sousa

terça-feira, 10 de agosto de 2010

NÃO SERÃO DE ESTRANHAR, AS CARAVELAS...




Ergue-se o pano e surge outro cenário…
De uma forma irreal, que mal se nota,
Deste mar virtual emerge a frota
Do sonho em caravelas de incensário…

A multidão, em sentido contrário,
Vai traçando, confusa, a sua rota.
Cruzados que não trazem espada ou cota
São sempre actores do nosso imaginário…

Não será de estranhar que, no futuro,
A ponte se levante sobre o muro
E que o entendimento sobrevenha…

Não será de estranhar. O que vos juro
É que estas caravelas que eu conjuro
Já se vão vendo ao longe. E ninguém estranha!



Maria João Brito de Sousa



Imagem retirada da internet

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

POUCA-TERRA, TANTO-TEJO...




“Pouca-terra, pouca-terra”…
Tanta terra falta ainda,
Tanto rio por navegar,
Tanto cume de alta serra,
Tanto trilho que não finda,
Tanta estrada e tanto mar!

E, do comboio que passa,
“Pouca-terra, muita-pressa”,
Na melopeia de infância,
Não pressinto uma ameaça…
Quero ver que terra é essa,
Quero medir-lhe a distância!

“Pouca-terra” – mais que fosse! –
Quanta improvável lonjura
Nesse meu olhar que fica…
Tanta gente amarga e doce
Nessa terrena procura
A que o mundo se dedica…

“Pouca-terra”… e, afinal,
Tanto, ainda por cumprir
Nesse mundo que então vejo…
Pouca terra? Não faz mal,
Muito mais terra há-de vir!
[pouca terra e tanto Tejo…]


Maria João Brito de Sousa – 08.08.2010 – 15.35h

Aos comboios da “Linha do Estoril”, sempre presentes, desde os primórdios da minha infância.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

MARIA-SEM-CAMISA II




Maria-Sem-Camisa, a sabe-tudo,

Aprendeu a falar c`os animais

E não desdenha nunca saber mais

Pois conhece o que diz o que está mudo...



Maria-Sem-Camisa é, sobretudo,

Uma devota ouvinte dos demais!

Entende o que lhe dizem os pardais,

Brinca com a razão onde eu me iludo...



Maria é destemida e eu nem tanto...

Maria nunca mente! Eu já menti...

Maria é bem mais forte do que eu sou!



Maria é o meu EU despido o manto

Que cobre tudo aquilo que senti

Quando a fraqueza humana germinou...




Maria João Brito de Sousa, in POETA PORQUE DEUS QUER

Autores-Editora, 2009

quarta-feira, 28 de julho de 2010

MARIA-SEM-CAMISA




Maria-Sem-Camisa, a sem dinheiro,

Passando pela vida ao Deus-dará

Tem fama de ser louca e de ser má

Mas, no fundo, é poeta a tempo inteiro...




Maria vai plantando o seu canteiro

De sementes de si e o que não há

Inventa-o a Maria e tanto dá

Ter pouco se tão rico se é primeiro...




Maria-Sem-Camisa planta ideias

E disso vai colhendo o seu sustento

Sem cuidar da chegada ou da partida...




Os frutos que ela colhe são candeias,

São estrelas a luzir no firmamento

Da órbita em que traça a sua vida...







Maria João Brito de Sousa

segunda-feira, 26 de julho de 2010




Amanhã estarei no "As Tardes da Júlia" a falar dos meus amigos de penas e quatro patas.
Os sonetos voltarão em breve.

terça-feira, 20 de julho de 2010

NESSES DIAS, TÃO MAIS LUMINOSOS...




Há dias em que a luz é tão brilhante,
Que as coisas tomam tons muito dif`rentes
E nada pode ser mais importante
Do que essas mutações quase aparentes…

Nesses dias, o brilho do diamante,
Fica a dever aos verdes inocentes
Daquele pinheiro bravo - esse gigante… -
Que pr`a mim ergue os braços rescendentes.

Há dias em que a luz tem mais calor
E esse estranho sabor de uma alegria
Que ainda recordamos… nesses dias.

Por vezes, cheiro a luz na própria cor
Pensando que essa luz me bastaria,
Que tudo o mais são meras fantasias…



Maria João Brito de Sousa – 19.07.2010 – 19.09h

segunda-feira, 19 de julho de 2010

MEMÓRIAS DE UMA MULHER INTERROMPIDA





Não foi assim tão antigamente...
Foi há cerca de um tempo
Mais duas metades de dois tempos meios.
Uma voz amiga, certamente,
Embora longínqua, perguntou por mim

E eu, tão confusa, não me conhecia...
Sou mulher de um homem,
Respondia.
E a voz insistia:
- Mulher, quem és tu?

- Sou a mãe de um filho que não mora cá
E de três meninas que me querem muito,
Apesar da culpa, apesar de tudo...
E a voz repetia:
- Mulher, quem és tu?

Eu iria jurar que não mentia
quando respondia:
- Eu sou essa mãe, apesar do luto!

A voz não cedia quando perguntava
Do Espaço, do Tempo e outras coordenadas:
- Ó mãe dos teus filhos, diz-me quem és tu!
Onde moram as tuas horas carnais?
Onde guardas o corpo quando sais
E voas em busca do filho perdido?
Que fazem essas tuas mãos?
Que estrelas tão negras trazes no olhar?
Que morte tão estranha te veio buscar
E esqueceu teu corpo entre os teus irmãos?

E eu respondia
Sem me aperceber
Que me descrevia sem me conhecer:
- Sou a mulher do meu homem
E a mãe das minhas crias!
Procuro o que se perdeu, o que morreu mal nasceu
E não alcanço encontrar...

Mas a voz não se calava no seu calmo perguntar:
- Mulher, que é feito de ti?
Só a ti tens de encontrar!

Então procurei-me em mim
E vi que não estava lá...
Procurei-me em todo o mundo,
Do abismo mais profundo à montanha mais escarpada,
Fui ao Nilo, fui ao Ganges,
Procurei-me em cada ventre
Das grutas mais ignoradas...

Devo ter percorrido o universo inteiro
Quando, de repente,
Encontrei um corpo que me não era alheio
E uma alma ardente
Onde cabia, exactamente,
A chama tão acesa do meu peito!

E juro
Que foi a primeira vez,
Em toda a minha vida,
Que aceitei a minha imagem denegrida,
Que me não importei de não ser entendida
E me orgulhei da estranha condição
De ser UMA MULHER INTERROMPIDA!


Maria João Brito de Sousa

sexta-feira, 16 de julho de 2010

FASES DA LUA




Abreviei-me, enfim, em lua-nova,
No solitário azul deste meu céu...
No sonho que o estar-só me prometeu
Olhei o Universo e pus-me à prova...

À prova de mim mesma, do cansaço,
Das coisas que magoam luas-cheias
Neste palco lunar das mil ideias
Preenchendo lacunas de outro abraço...

Abreviada, já nem sou visível
E transformo em luar cada impossível
Numa constelação pré-fabricada...

Mas muda o tempo as fases de uma lua
E assim, despida, eu fico de alma nua...
Quem imagina a lua envergonhada?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

ESTRELAS CADENTES


Trago poemas nas veias
E, dos poemas que trago,
Moldo o barro das ideias
De que nasce o mesmo barro…

São mil poemas-cadentes
Cravados como punhais,
Cicatrizes transparentes
De quem já viveu demais,
De quem desistiu da vida
Dos neutrões e dos protões
E, ficando assim, perdida,
Se alimentou de canções,

De quem não quis, querendo crer
Que o que na vida importava
Era só permanecer
Nas palavras que deixava,
Nesses poemas-cadentes,
Cravados como punhais
Com marcas inaparentes
De quem parte, mas quer mais…

Trago poemas nas veias
E, dos poemas que trago,
Moldo o barro das ideias
De que nasce o mesmo barro…


Maria João Brito de Sousa

quinta-feira, 1 de julho de 2010

DESTE LADO DO ESPELHO














Deste lado do Espelho, sou mulher

Louca e perdida em estranhos devaneios,

À espera do melhor que em mim houver

Sem sonhos, sem limites, nem receios...


Sou Pequena Utopia e, se o quiser,

Serei também mulher de olhos alheios,

Daquela exacta cor que o espelho quer

- violetas reflectindo outros anseios -...


Teclando, de surpresa - até pr`a mim -,

Ficciono a minha imagem sem pudor

E reparto-me em tons que desconheço,


Sem jamais me apartar deste jardim

Onde desabrochou tão louco amor

E onde todos os dias recomeço...



Maria João Brito de Sousa