VISLUMBRES


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quarta-feira, 28 de julho de 2010

MARIA-SEM-CAMISA




Maria-Sem-Camisa, a sem dinheiro,

Passando pela vida ao Deus-dará

Tem fama de ser louca e de ser má

Mas, no fundo, é poeta a tempo inteiro...




Maria vai plantando o seu canteiro

De sementes de si e o que não há

Inventa-o a Maria e tanto dá

Ter pouco se tão rico se é primeiro...




Maria-Sem-Camisa planta ideias

E disso vai colhendo o seu sustento

Sem cuidar da chegada ou da partida...




Os frutos que ela colhe são candeias,

São estrelas a luzir no firmamento

Da órbita em que traça a sua vida...







Maria João Brito de Sousa

segunda-feira, 26 de julho de 2010




Amanhã estarei no "As Tardes da Júlia" a falar dos meus amigos de penas e quatro patas.
Os sonetos voltarão em breve.

terça-feira, 20 de julho de 2010

NESSES DIAS, TÃO MAIS LUMINOSOS...




Há dias em que a luz é tão brilhante,
Que as coisas tomam tons muito dif`rentes
E nada pode ser mais importante
Do que essas mutações quase aparentes…

Nesses dias, o brilho do diamante,
Fica a dever aos verdes inocentes
Daquele pinheiro bravo - esse gigante… -
Que pr`a mim ergue os braços rescendentes.

Há dias em que a luz tem mais calor
E esse estranho sabor de uma alegria
Que ainda recordamos… nesses dias.

Por vezes, cheiro a luz na própria cor
Pensando que essa luz me bastaria,
Que tudo o mais são meras fantasias…



Maria João Brito de Sousa – 19.07.2010 – 19.09h

segunda-feira, 19 de julho de 2010

MEMÓRIAS DE UMA MULHER INTERROMPIDA





Não foi assim tão antigamente...
Foi há cerca de um tempo
Mais duas metades de dois tempos meios.
Uma voz amiga, certamente,
Embora longínqua, perguntou por mim

E eu, tão confusa, não me conhecia...
Sou mulher de um homem,
Respondia.
E a voz insistia:
- Mulher, quem és tu?

- Sou a mãe de um filho que não mora cá
E de três meninas que me querem muito,
Apesar da culpa, apesar de tudo...
E a voz repetia:
- Mulher, quem és tu?

Eu iria jurar que não mentia
quando respondia:
- Eu sou essa mãe, apesar do luto!

A voz não cedia quando perguntava
Do Espaço, do Tempo e outras coordenadas:
- Ó mãe dos teus filhos, diz-me quem és tu!
Onde moram as tuas horas carnais?
Onde guardas o corpo quando sais
E voas em busca do filho perdido?
Que fazem essas tuas mãos?
Que estrelas tão negras trazes no olhar?
Que morte tão estranha te veio buscar
E esqueceu teu corpo entre os teus irmãos?

E eu respondia
Sem me aperceber
Que me descrevia sem me conhecer:
- Sou a mulher do meu homem
E a mãe das minhas crias!
Procuro o que se perdeu, o que morreu mal nasceu
E não alcanço encontrar...

Mas a voz não se calava no seu calmo perguntar:
- Mulher, que é feito de ti?
Só a ti tens de encontrar!

Então procurei-me em mim
E vi que não estava lá...
Procurei-me em todo o mundo,
Do abismo mais profundo à montanha mais escarpada,
Fui ao Nilo, fui ao Ganges,
Procurei-me em cada ventre
Das grutas mais ignoradas...

Devo ter percorrido o universo inteiro
Quando, de repente,
Encontrei um corpo que me não era alheio
E uma alma ardente
Onde cabia, exactamente,
A chama tão acesa do meu peito!

E juro
Que foi a primeira vez,
Em toda a minha vida,
Que aceitei a minha imagem denegrida,
Que me não importei de não ser entendida
E me orgulhei da estranha condição
De ser UMA MULHER INTERROMPIDA!


Maria João Brito de Sousa

sexta-feira, 16 de julho de 2010

FASES DA LUA




Abreviei-me, enfim, em lua-nova,
No solitário azul deste meu céu...
No sonho que o estar-só me prometeu
Olhei o Universo e pus-me à prova...

À prova de mim mesma, do cansaço,
Das coisas que magoam luas-cheias
Neste palco lunar das mil ideias
Preenchendo lacunas de outro abraço...

Abreviada, já nem sou visível
E transformo em luar cada impossível
Numa constelação pré-fabricada...

Mas muda o tempo as fases de uma lua
E assim, despida, eu fico de alma nua...
Quem imagina a lua envergonhada?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

ESTRELAS CADENTES


Trago poemas nas veias
E, dos poemas que trago,
Moldo o barro das ideias
De que nasce o mesmo barro…

São mil poemas-cadentes
Cravados como punhais,
Cicatrizes transparentes
De quem já viveu demais,
De quem desistiu da vida
Dos neutrões e dos protões
E, ficando assim, perdida,
Se alimentou de canções,

De quem não quis, querendo crer
Que o que na vida importava
Era só permanecer
Nas palavras que deixava,
Nesses poemas-cadentes,
Cravados como punhais
Com marcas inaparentes
De quem parte, mas quer mais…

Trago poemas nas veias
E, dos poemas que trago,
Moldo o barro das ideias
De que nasce o mesmo barro…


Maria João Brito de Sousa

quinta-feira, 1 de julho de 2010

DESTE LADO DO ESPELHO














Deste lado do Espelho, sou mulher

Louca e perdida em estranhos devaneios,

À espera do melhor que em mim houver

Sem sonhos, sem limites, nem receios...


Sou Pequena Utopia e, se o quiser,

Serei também mulher de olhos alheios,

Daquela exacta cor que o espelho quer

- violetas reflectindo outros anseios -...


Teclando, de surpresa - até pr`a mim -,

Ficciono a minha imagem sem pudor

E reparto-me em tons que desconheço,


Sem jamais me apartar deste jardim

Onde desabrochou tão louco amor

E onde todos os dias recomeço...



Maria João Brito de Sousa