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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

PRELÚDIO PARA UM POENTE COMO OUTRO QUALQUER

Ah, soletro sonhos!
Somo-me em sílabas, silêncios e sons


Solidamente
sou e sigo sendo
síncrona, serena e solitária,
sonolenta sobre sobressaltos sonoros


sou, sem susto
sou, sem solução

sinto, sorvo e solicito essa insolvência…




Maria João Brito de Sousa – 28.11.2012 -16.44h


Brevíssimo exercício poético, em sibilantes,
em homenagem à oralidade da língua portuguesa
e, mais uma vez, contra o abominável Acordo Ortográfico


(para ilustração da tela Essência – MJBS -1999)

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

SONETO PARA UM SONHO QUE SONHEI - Em decassílabo quase heróico


Depois de uma janela, outra janela
Se abriu de par em par, nesse protesto…
Mil se abriram depois, fazendo o resto,
Assim que a voz do sonho ecoou nela!

Completo, nasce o sol, derruba a cela,
Infiltra-se-lhe a luz no duro asbesto
E, nessa convicção que ao sono empresto,
Traduz-se-me em vontade enchendo a tela…

Transmutada a janela em peito aberto,
Fosse essa luz descrita a voz roubada
À vivência de um tempo, insano, incerto,

Estaria essa vitória bem mais perto
E já se glosaria, em qualquer estrada,
Invicta, esta alegria em que eu desperto!




Maria João Brito de Sousa – 24.11.2012 – 09.39h











quinta-feira, 22 de novembro de 2012

NAVALHA OBLÍQUA EM BECO SEM SAÍDA - Em soneto de nove sílabas métricas

É tão crua esta oblíqua navalha
Que apunhala os sentidos da gente,
É tão suja, é tão vil que não falha;
Assassina e… disfarça, inocente!

Se debalde lhe foge a canalha
Que afinal lhe foi sempre indiferente,
Ela fixa, encurrala e estraçalha
Cada um dos que em fuga pressente…

Mas que importa a navalha cruenta
Do poder que nos quer degolar
Se outra força imperiosa argumenta

Numa voz que até mortos sustenta
E nos diz que é morrer ou lutar
Se, à traidora, nem sangue a contenta?




Maria João Brito de Sousa – 22.11.2012 – 01.48h



IMAGEM - The Charnel House - Pablo Picasso 1944/45

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

ESPERO-VOS...

Espero-vos
na imprevisibilidade
do tempo por vir,
à esquina do acaso que encontrar,
porque nada em mim é menos imenso
do que este espanto de vos saber alheios…

Serena,
percorri os intervalos
entre cada compasso dos minutos
enquanto os anos se dignavam
desenrolar um imenso novelo de memórias
ao longo do qual,
coloridos e  suspensos como jardins,
os dias floresciam
no vivo silêncio dos cinco sentidos

Ano após ano,
Fui colhendo os frutos da alegria
exactamente de aonde  a desdenhais
e dissolvi-me
no mais profundo dos sonos
sabendo que o medo me temeria a mim…

Sou,
límpida e solidamente,
aquilo que fui tecendo,
sonho a sonho,
numa imensidão de esperas…
como a vossa,
como as dos outros,
como as dos que acreditam
na construção de um rumo,
na despojada escolha de um devir qualquer…

Esperar-vos-ei
na imprevisibilidade da cada esquina,
na indefinição do tempo que restar,
no limiar da vossa insultuosa indiferença,
no reacender de cada um dos vossos medos,
no segredo inconfesso das vossas insónias
ou na (des)construção de um palco controverso
onde ninguém saiba de cor o seu papel
e onde jamais se erga a voz sumida do “ponto”!


Fá-lo-ei – ou talvez não… -
ainda que nada em mim seja menos visível
do que este espanto de vos saber alheios…





Maria João Brito de Sousa – 01.11.2012 -21.08h