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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

MEMÓRIAS




Nessa noite
uma lua prenha,
rodando tão devagar
que qualquer olhar lhe atribuiria 
a imobilidade do grafismo impresso,
deixou que  uma nuvem cinzenta a tapasse

depois,
sobre o louceiro da sala,
no aquário dos sonhos  antigos,
um novo e inesperado peixe incolor
foi-lhe devolvendo a memória dos “crayons”
até que a insubmissão de uma mão imaginária
os quisesse e soubesse ressuscitar na vontade dos dedos

fazia tanto frio
na floresta das cores
onde as horas, como agulhas,
lhe apontavam as conchas vazias
de mil gestos sem esperança de fruto…

mas bastou
que esse peixe
se agitasse levemente,
que uma palavra
espelhasse a cor da nuvem,
que as invisíveis raízes
suportassem o inevitável tronco,
que o impensável cilindro
se alongasse em ramos impossíveis,
que as velhíssimas memórias
se metamorfoseassem em folhas improváveis

para que
a substância do fruto
se viesse a tornar tão real
quanto aquela absoluta urgência
de o ouvir cantar por dentro da novíssima criação 



Maria João Brito de Sousa – 02.02.2013 – 18.09h

16 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Porque a gente não pensa
que às vezes
basta que um peixe incolor
se mexa ?

Que outra lua venha,
Prenha

AC disse...

A vida é temperada por pequenos nadas, pequenos imprevistos que, aqui e ali, vão alterando o guião...

A sua escrita é inspiradora.

Beijo :)

Maria João Brito de Sousa disse...

Que venha, então, essa lua prenha de vontade, também ela motor e combustível do inadiável, Rogério!

Abraço grande!

Maria João Brito de Sousa disse...

É essa mesma a essência da vida, tal como a conhecemos, AC!

Obrigada e um abraço!

Manuel Veiga disse...

poema secreto. como o fascinio (do outro) da Lua.

delicada vibração da Poesia.

belíssimo.

beijos

Maria João Brito de Sousa disse...

:) Obrigada, Heretico!

O meu abraço!

Maria Luisa Adães disse...

Maravilhosa a construção do poema e a sensibilidade do mesmo.
Parabéns!

Maria luísa

Maria João Brito de Sousa disse...

Obrigada, Maria Luísa!

Um beijo grande!

Mar Arável disse...

Basta um vagaroso instante

Mel de Carvalho disse...

não consigo deixar de me fixar na forma deste poema - vislumbro uma meia árvore e, logo de seguida leio [lhe]a vontade dos dedos, os gestos, os frutos

e de novo fico suspensa de e em folhas improváveis donde nascem, maduros e suculentos, os seus poemas, Mª João.

(gostei si.muito e tanto…)
bem haja

beijo de bfs

Mel

Lúcia disse...

O metamorfosear da memória é que nem conto de fadas, o embaralhar das cartas, o mergulho em águas profundas...tudo pode acontecer!

Quando eu gosto, eu volto. Hei de voltar...
Um abraço, Maria João

Maria João Brito de Sousa disse...

Obrigada, Lúcia :)

Esta minha ausência deve-se a uma avaria no meu portátil. Estou a responder de outro, emprestado, que só me permite abrir uma página de cada vez, sob pena de ficar sem ligação nenhuma... tudo se está a tornar muito mais lento para mim... e não é só a nível pessoal, por estar menos bem... é tudo, mesmo... até este "veículo" de emergência é leeeeeeeento....


Um abraço!

Maria João Brito de Sousa disse...

Tudo se tornou vagaroso, para mim,agora, Mar Arável... mas vou fazer alguns impossíveis para tentar chegar aí! Abraço!

Maria João Brito de Sousa disse...

Tenho estado sem computador, Mel... este é um "bote de salvação" emprestado por um amigo... ambos metemos alguma "água", amiga... nem eu, nem o "bote" estamos nos nosso melhor... mas vou tentar chegar aí!


Abraço grande!

Maria Luisa Adães disse...

Mas estão por aqui "Memórias" que no titulo coincide com o meu, mas não foi cópia, mas coincidência...

Mª. Luísa

Maria João Brito de Sousa disse...

Claro que não foi cópia, Maria Luísa! Nem tal me passaria pela cabeça! Quantos poetas já não escreveram sob este mesmo título? Quantos não criaram a partir da memória de momentos vividos ou sonhados?
Coincidência pura, o que é belíssimo entre poetas que se conhecem, como nós... e até nos que, de todo, se não conhecem... nós, conhecendo-nos, podemos "saborear" melhor essas coincidências!

Beijo grande!